13.10.10

Bom é aproveitar




Uma viagem que não se completa pode ser extenuante até o momento em que se percebe e se sente o gosto puro de viajar. Mesmo sem sair do lugar, já que não é sempre o corpo externo que necessita do movimento, da variação.

Por isso o ensinamento inclui o sorriso do fígado: da alma do corpo que se retrai. A meditação não vale apenas para a mente aquietar-se. Vale para o corpo inteiro sair do declive e achar a justa velocidade no percurso que não tem volta.

O equilíbrio humano é sutil e enganoso. Há quem se equilibre no alto do abismo, há quem prefira a segurança de ondas na beira do mar. O engano está em supor o equilíbrio seguro, ou tomar uma zona de conforto pelo equilíbrio final.

Escapar do conforto é uma busca clássica, no entanto, que também não garante a jornada tranquila... Estar em constante fuga, e em eterna manutenção, é próprio do homem - da insatisfação do ser que não se cansa de estar atrás de si mesmo, de experimentar os prazeres, as dores, os traumas e alegrias de uma travessia que é feita, de uma forma ou de outra.

Através do tempo, e de cada um, caminhos se formam e se cruzam, aqui ou em outro lugar. E à semelhança do desbravamento de mundos e do deslumbre de novas paisagens, o primeiro passo é pedido a quem quiser aventurar-se no vasto repertório de imagens, direções, paladares e transcendentes ligações possíveis durante toda a viagem - que todos querem, mas nem todos sabemos ou podemos aproveitar.


Comer rezar amar (Eat pray love, EUA, 2010)

Direção: Ryan Murphy
Com Julia Roberts e Javier Bardem.