5.3.11

Espelho d'água





Mesmo de olhos fechados o que é visto é o intocado.

O corpo enxerga tão perto que pode não enxergar nada.

A imagem do tato e a da retina se cruzam, num mergulho em água cristalina.

Porque são mundos distintos, o corpo e a visão.



O que a gente vê no espelho espanta.

Quanto mais luz pior. O espelho parece mentir menos na penumbra.

O corpo faz outra imagem de si, enquanto a vista compõe a face do mundo.

De uma janela do corpo, o que não é corpo se forma.



A visão de dentro se afasta no exterior sumidouro.

Mantemos o rosto fora da água.

No limiar que separa da consciência o real.

O corpo está imerso no sonho, ou o sonho diante do olhar?




Foto de Toni Frissell, no álbum de Juliana Lombardi.