8.1.07

Fechado a sete chaves


Os olhos de um velho sem corpo aprendem a dizer muito, inclusive sobre o horror de enxergar de dentro de um corpo que parece não ser mais seu.

Enquanto isso, no espelho das almas que falam e andam, fantasmas assombram o corpo, desejam-no, como à sombra da vida paira a morte. Feitiços de proteção ou ataque erguem a fortaleza de um “corpo fechado”, ou abrem os portões de um castelo vulnerável.

Mas tem que acreditar para que funcione. A fé precisa do corpo escravo. Precisa fazer do corpo engrenagem perfeita, encaixe de mecanismo invisível, peça medíocre de grande máquina imaterial. E apesar de tudo, com supremacia diante dos demais entes animados – matéria melhor que a matéria, o corpo humano submete-se ao incorpóreo.

Fazer do corpo objeto real e irreal, aparente e essencial, no limiar entre aquilo que toscamente percebemos e o que, além do corpo, imaginamos existir – eis o mistério da fé.

Calabouço da consciência ou “buraco branco no tempo” da matéria inanimada, como discorre o físico Peter Russell no livro com este título, o fato é que o corpo humano esconde um segredo trancado a sete chaves.

E ainda teme que a porta, aberta apenas pelo lado de lá, leve ao mundo sem fundo de um não-lugar, sem nada para olhar, onde nem luz haja mais.


A chave mestra (The skeleton key, EUA, 2005)
Direção: Iain Softley
Com Kate Hudson e John Hurt.

Um comentário:

Anônimo disse...

anda vendo muito filme sem mim não é moço? =) Bju