6.9.11

A eternidade suspensa




O tempo passa tão devagar que é como se não houvesse tempo, ou como se a sua percepção fosse tão limpa, como se fosse o tempo sólido, visível, envolvendo as coisas diante dos olhos, cada instante preso no olhar de um tempo em pura distensão.

Mas do fundo da visão cristalina não sai a vertigem do fim de tudo, que se sabe e se esconde desde o começo. Feita permanente, a vertigem não assusta como antes. A presença do que não traz sentido provoca a sensação de vazio preenchido, e a vertigem passa a ser não mais o que se teme enxergar, e sim, um modo cego de observar o mundo.

A velocidade transitória é retirada. A paralisia mobiliza os músculos, como se o corpo tomasse consciência da mente. A estupidez transitória é retirada, sobrando o estupor da razão ausente.

E o que se eternizava, sob a confiança monótona dos dias ligeiros e das horas intermináveis, dos segundos inapreensíveis e dos anos mal recordados, o que se eternizava em hábitos, credos e ritos dirigidos à eternidade, se despedaça.


Melancolia (2011)
Direção: Lars von Trier
Com Kirsten Dunst e Kiefer Sutherland.