6.12.09

Onda azul sobre Copenhague




Manifestantes tomaram as ruas de Londres ontem para pressionar os participantes do encontro que começa amanhã em Copenhague, na Dinamarca, onde serão discutidas as metas nacionais de redução na emissão dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Esses gases estariam elevando a temperatura do planeta e pondo em ação a contagem regressiva para a mudança do clima.



Há quem diga que a dano está feito, com as consequências a caminho – entre elas o derretimento ainda maior dos pólos, a elevação do nível dos oceanos, a inundação de regiões costeiras, e o aumento da temperatura.


E há quem diga que nada disso é culpa da mão pesada da humanidade e suas fábricas de fumaça.

No fim das contas, o resultado da Conferência de Copenhague dependerá de que lado terá melhor desempenho na guerra da informação: se a “onda azul” dos bioativistas, ou a “onda cinza” dos poluidores indiferentes.

Fotos: Leon Neal/AFP/Getty Images e Luke Macgregor/Reuters.

1.12.09

Kafka e o pião filosófico




A capacidade de conhecer não casa com a capacidade de contemplar.

O conhecimento e a contemplação, não sendo opostos, teriam contudo natureza diversa, levemente repulsivos um em relação ao outro – coexistindo sem “se encostar”, sem habitar o mesmo momento, animar ao mesmo tempo o mesmo impulso curioso.

Eis uma leitura possível do pequeno conto de Kafka, a seguir.


O pião

"Um filósofo costumava circular onde brincavam crianças. E, se via um menino que tinha um pião, já ficava à espreita. Mal o pião começava a rodar, o filósofo o perseguia com a intenção de agarrá-lo. Não o preocupava que as crianças fizessem o maior barulho e tentassem impedi-lo de entrar na brincadeira; se ele pegava o pião enquanto este ainda girava, ficava feliz, mas só por um instante, depois atirava-o ao chão e ia embora. Na verdade acreditava que o conhecimento de qualquer insignificância, por exemplo o de um pião que girava, era suficiente ao conhecimento do geral. Por isso não se ocupava dos grandes problemas – era algo que lhe parecia antieconômico. Se a menor de todas as ninharias fosse realmente conhecida, então tudo estava conhecido; sendo assim só se ocupava do pião rodando. E, sempre que se realizavam preparativos para fazer o pião girar, ele tinha esperança de que agora ia conseguir; e, se o pião girava, a esperança se transformava em certeza enquanto ele corria até perder o fôlego atrás do pião. Mas quando depois retinha na mão o estúpido pedaço de madeira, ele se sentia mal e a gritaria das crianças – que ele até então não havia escutado e agora de repente penetrava nos seus ouvidos – afugentava-o dali e ele cambaleava como um pião lançado com um golpe desajeitado da fieira."

(Em Narrativas do espólio, Franz Kafka, Cia. das Letras, 2002, Tradução de Modesto Carone)



Foto: Ratão Diniz / www.flickr.com