9.11.07

O banquete

“De onde vem – essa busca? A necessidade de solucionar os mistérios da vida, quando as questões mais simples sequer são respondidas? Por que estamos aqui? Que é a alma? Por que sonhamos? Talvez fosse melhor não procurar resposta alguma, não ir atrás desse desejo de saber. Mas não é assim a natureza humana. O coração humano não é assim. Não é para isso que estamos aqui. Lutamos para fazer diferença. Mudar o mundo. Sonhar com esperança. Sem saber quem encontraremos pelo caminho. Quem, entre os estranhos no mundo, vai nos dar as mãos, tocar o nosso coração, e dividir conosco a dor de tentar.”

A gente acredita no que sente. E o sentimento realimenta a crença. O amor é uma sinapse forte. Uma sinapse que se repete. Por isso a gente ama o que conhece – a sinapse forte, repetida, dá sentido ao mundo percebido, formado por milhões de sinapses por segundo.

O mundo é montado em sinapses. As sinapses encaixam as peças do mundo. A gente crê nas sinapses, que nos delineiam a realidade e fazem do mundo, pra nós, um lugar real.

Para que a realidade cresça e floresça, precisamos de sentimentos fortes – de sinapses conhecidas. O mundo pode ser feio ou bonito: depende do sentimento forjado pelas sinapses.

As ligações nas extremidades neuronais, dentro do ponto criador de universos que é o cérebro humano, não explicam, contudo, a intensa busca processada por trás dos sentidos. O desejo de saber que nos compõe é tão radical que chega a negar-se, como se não restasse outra coisa para os habitantes de uma ilha do imenso negrume povoado de incontáveis outros planetas, estrelas e astros quase invisíveis, por inalcançáveis (como a fronteira do infinito para a vida protozoária, na escala do que vemos lá fora, talvez não muito diferente da nossa).

Negar a pergunta é comum quando a resposta demora ou escapa. O mais difícil é refazer a questão de modo a torná-la nova.

Apesar de sua raiz aparente – no extracorpóreo medido pelos sentidos – tomamos o sentimento por algo profundo. O que acolhemos à flor da pele remetemos ao nosso corpo íntimo. Remetemos à essência do que chamamos humanidade.

Uma essência que ansiamos transcendente, chave possível para os enigmas que percebemos e sentimos. Para os enigmas que somos.

Em um mergulho no conhecimento do corpo íntimo, a alma – essência transcendental em nós – de repente se revela nos porões da matéria viva que, temporariamente, ocupamos. E nos assalta a convicção – ou nos revigora a fé – de que sobram respostas nesta arca: pois deve existir muito mais em nossos genes do que supõe a nossa infante biologia.

No arco mágico a unir a natureza humana à natureza sem humanos, determinismo genético à explosão cósmica, bioengenharia à física das cordas e neurociência à física quântica, a consciência do que há em volta e dentro de si encontra um vasto campo intocado à frente, com o horizonte livre em quase todas as direções.

O banquete das velhas perguntas está só começando.

Heroes – 1ª temporada (Heroes – Vol. 1, 2006)
Criação: Tim Kring
Com Hayden Panettiere, Jack Coleman, Masi Oka, Sendhil Ramamurthy.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fabio, sou filha de um amigo seu, Luiz Otavio Cavalcanti. Papai sempre me fala de vc. mas nem sei se vc. ainda lembra...conheci seu irmao, Paulo Lucas, em sao Paulo. Gostei muito do que li aqui. me visita? Acho que ce vai curtir o meu tambem - Hj.apenas faco jornalismo como hobby. mas ainda precis escrever todos os dias (acho que como vc). Abraco em Paulo Lucas e outro a voce.

Anônimo disse...

Esqueci de deixar a webpage. mas agora vai: http://wwwbelacavalcanti.blogspot.com