4.11.06

Na encruzilhada outra solidão



Em cartaz - O menino joga sozinho o futebol de botão. O velho acorda sem ninguém. O jovem picha os muros do país, um país que se distrai com a Copa na TV. A solidão dos encontros, muda, serena, o hábito e os costumes trazidos de longe, esquecidos na memória.

Enquanto é infinita, a infância sai recolhendo os indícios do mundo no afã de aprender, abandonando os restos percebidos sem pensar no tempo gasto no gesto repetido e no medo daquilo que nem vê.

A vida aberta em mil vias destoa da lentidão da velhice. A pressa é inimiga da idade que não tem prazo de validade porque hoje foi ontem, um agora remexido mal se livra do antes, e amanhã é mais distante que os dias que povoam o presente.

Durante a jornada, uma revolta se levanta contra a opressão e a vilania. Mas é só uma revolta no meio de tantas tiranias... Até que a liberdade tardia retorne, a diferença dá-se os braços e se defende como pode.

Nos idos da ditadura da história a ditadura do tempo promove abraços inusitados na encruzilhada da solidão. Outros olhares perdidos, outros temores na carne, outros consolos no coração. O estranhamento é idêntico, contudo, e se estampa na face da multidão que grita alto, a cada gol, como uma só voz – como se não fosse uma voz só.

O ano em que meus pais saíram de férias (Brasil, 2006)
Direção: Cao Hamburger
Com Germano Haiut, Michel Joelsas, Liliana Castro e Caio Blat

Um comentário:

Anônimo disse...

Fábio, sou encantado com seu blogue. Nos filmes você mostra o que não vi.

Recife tinha seus cinemas. Você não foi desse tempo. Ir a um cinema tinha seu ritual.

Que inveja do primo mundo. In www.france24.com (legenda de foto):
Paris, capitale des cinéphiles


Dans la ville lumière, entre rétrospectives et soirées à thème, les petites salles et cinémas indépendants proposent des films du monde entier tandis que les multiplexes attirent les habituels amateurs de blockbusters.