2.8.07

O resto é ruído

O corpo não liga para a voz muda: pensamentos calados não passam despercebidos. Que silêncio impede a dança? Que música não se ouve, quando o bastante há para escutar? É no silêncio que se dança melhor, e a melhor dança é aquela que parece não ter necessidade do som.

A vida tagarela pode ser simples, transparente e bela, como ensinam os que têm os sentimentos articulados na pressa da língua de sinais. O gestual eloqüente disputa com o olhar a atenção da alma que não cabe no corpo – que não cala porque não sabe calar.

Quando falar é impossível, vemos o quanto dizer o que se quer é difícil, mesmo à voz menos trêmula, à sílaba bem coordenada. E o quanto é fácil dizer, com menos, o que falamos demais.

Diante de um mundo a cada dia maior, de informações plenas em profusão, a toda velocidade e a todo instante, a mudez soa logo estranha aos ouvidos acostumados à cacofonia. Mas por pouco tempo. De repente nos damos conta de que é a mesma linguagem, quase a mesma história, quase as mesmas pessoas com que topamos sempre, que apenas se comunicam diferente.

Falar é tão fácil e às vezes o que sai da boca era já tão explícito que, tem hora, renunciamos ao entendimento. Abandonamos o óbvio – justamente aquilo que não poderia ser abandonado. Certezas esquecidas ou aprisionadas, dúvidas escondidas à espreita, à espera da recordação, do resgate, da libertação pela mera repetição do óbvio.

Assim como a novidade que surge pode trazer o perfume de certa experiência vivida, a manifestação de linha redundante pode levar ao reconhecimento do mesmo, noutra face. Feito similar brilho em outro espelho, a revelar nova imagem à mesmíssima luz.

A compreensão pede a palavra, e a palavra pede o gesto em seu reflexo. Viver é selecionar signos e passá-los adiante. Para qualquer um? Não, eis a questão! É preciso encontrar o par de cada mensagem – no momento preciso – no imenso “jogo da memória” em que o dito e o não dito se fundem em toda voz.

Principalmente se o ser inteiro – além da fala – é essa voz.


O resto é silêncio (Curta, Brasil, 2003)
Roteiro e Direção: Paulo Halm
Com Paula Mele e Valdo Nóbrega.

Um comentário:

Elza disse...

Olá!!
Estou passando por aqui para dar meus parabéns
pela sua indicação, ao prêmio blog 5 estrelas!
Seu blog é muito orinal, parabéns 2x!
rsrs..
boa semana.
=]