O caos não suspende a
ação por causa de uma entre outras ordens possíveis
A paixão
ganha razões elementares no contraste com a privação dos prazeres, a dor
prolongada e a perspectiva de morte prematura que fazem da guerra o cenário
perfeito para a celebração da vida.
E a razão
ganha argumentos apaixonantes diante do quadro desolador, do desespero reinante
e das ruínas que nascem por todos os lugares em que a esperança se defronta com
a destruição e a perda.
É do realismo
chocante que brotam as raízes do delírio. É da brutalidade que se oferece com
insistência à vista que a ternura se impõe necessária. É da penitência
generalizada pelo terror que o perdão aparece sem esforço.
A culpa se
espalha na poeira da devastação. Escombros e cicatrizes, todavia, não ficam
totalmente para trás. O caminho também se faz do tropeço em escombros, e há
feridas reabertas no menor passo adiante.
Pode demorar
até que a redenção traga a reboque a coincidência entre o romance e a paz, unindo
a liberdade de fora com a de dentro, selando o encontro do luto com um novo
caminho, que surge surpreendente, confortante, sem explicação.
Sim, o caos
cria mundos, novos sentidos, e até recupera antigos – mas o perigo da
fertilidade caótica é que ela pode continuar indefinidamente. O caos não
suspende a ação por causa de uma entre outras ordens possíveis.
O caos não
para de semear e matar, como guerra sem origem sabida, nem desfecho previsível.
Esses amores (Ces
amours-là, França, 2010)
Direção: Claude LelouchCom Audrey Dana e Dominique Pinon.
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