5.11.11

Fertilidade do caos



O caos não suspende a ação por causa de uma entre outras ordens possíveis



A paixão ganha razões elementares no contraste com a privação dos prazeres, a dor prolongada e a perspectiva de morte prematura que fazem da guerra o cenário perfeito para a celebração da vida.

E a razão ganha argumentos apaixonantes diante do quadro desolador, do desespero reinante e das ruínas que nascem por todos os lugares em que a esperança se defronta com a destruição e a perda.

É do realismo chocante que brotam as raízes do delírio. É da brutalidade que se oferece com insistência à vista que a ternura se impõe necessária. É da penitência generalizada pelo terror que o perdão aparece sem esforço.

A culpa se espalha na poeira da devastação. Escombros e cicatrizes, todavia, não ficam totalmente para trás. O caminho também se faz do tropeço em escombros, e há feridas reabertas no menor passo adiante.

Pode demorar até que a redenção traga a reboque a coincidência entre o romance e a paz, unindo a liberdade de fora com a de dentro, selando o encontro do luto com um novo caminho, que surge surpreendente, confortante, sem explicação.

Sim, o caos cria mundos, novos sentidos, e até recupera antigos – mas o perigo da fertilidade caótica é que ela pode continuar indefinidamente. O caos não suspende a ação por causa de uma entre outras ordens possíveis.

O caos não para de semear e matar, como guerra sem origem sabida, nem desfecho previsível.



Esses amores (Ces amours-là, França, 2010)
Direção: Claude Lelouch
Com Audrey Dana e Dominique Pinon.

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