14.6.12

O futuro está nos olhos deles


Com vontade de influir nas decisões tomadas para mudar o mundo, 
milhares de jovens participam da Rio+20


Muitos deles nem eram nascidos em 1992, quando o Brasil recebeu pela primeira vez um encontro de cúpula internacional sobre o meio ambiente. A maioria dava os primeiros passos ou entrava na pré-adolescência, e nem sonhava em fazer parte daquilo duas décadas mais tarde. Mas a geração com menos de 30 anos é a grande depositária da esperança dos rumos da Rio+20, e por isso a voz da juventude terá grande destaque no evento.

Ontem, foi encerrada a reunião do grupo de interesse de crianças e jovens da Organização das Nações Unidas (ONU), no Centro de Convenções Sul América, no centro da cidade. Dois mil jovens de 120 países estiveram presentes, expondo seus problemas e ideias, discutindo experiências e ajustando como levar a visão deles para o palco oficial, no Rio Centro, onde terão papel garantido, e para o público que irá acompanhar tudo pela TV e, principalmente, pelas mídias sociais.

O grupo de interesse de crianças e jovens foi criado pela ONU em 1992, junto com outros oito grupos, entre os quais os de povos indígenas, de empresários e de organizações não-governamentais. Os grupos compõem espaços oficiais de diálogo entre as Nações Unidas e a sociedade, sendo coordenados por entidades sociais e ONGs, sem o controle direto da ONU. Antes de cada conferência da entidade, o grupo de interesse de crianças e jovens realiza um evento prévio, de capacitação e planejamento. “É para fazer o pessoal entender o que está acontecendo, como funcionam os instrumentos de negociação na ONU, e quais os canais de influência possíveis”, explica Pedro Telles, um dos organizadores da Youth Blast – nome dado ao encontro prévio dos jovens para a Rio+20. Pedro tem 24 anos e integra o Vitae Civilis, fundado antes ainda da ECO92, em 1989, em São Paulo, e voltado para “a governança da sustentabilidade sócio-ambiental”, segundo o site da organização.

“A gente conseguiu atingir um público que não é envolvido nas negociações da ONU”, disse Juliana Russar, 27, voluntária na Youth Blast. “Não é só os governos que vão tomar as decisões, é importante a participação de toda a sociedade. Organizações e indivíduos que façam parte dos grupos podem influenciar as decisões da ONU”, acredita Juliana, coordenadora de uma entidade criada em 2008, voltada para a “busca de soluções pra crise climática”, segundo a expressão dela. Chama-se 350.org, em referência à concentração de carbono na atmosfera considerada segura pelo cientista da Nasa, James Hensen, de 350 parte por milhão (ppm). Atualmente essa concentração está em 400 ppm. Na Rio+20, Juliana e seus amigos da 350.org promoverão uma campanha pelo fim do subsídio aos combustíveis fósseis.

A estimativa é de que cerca de três mil jovens participem da Rio+20 a partir de hoje, quando começa de fato a programação oficial, enriquecida por uma programação paralela repleta de debates e exposições em vários locais da capital fluminense. Na Cúpula dos Povos, que acontece no Aterro do Flamengo, o Acampamento Internacional das Juventudes promete ser um dos focos de agitação e ativismo. Por outro lado, as delegações oficiais não iriam desperdiçar o apelo que vem dos olhos que miram o futuro. O governo brasileiro tem na delegação 12 jovens, cuja missão será tentar traduzir o pensamento das novas gerações do País, que será o centro das atenções do planeta nos próximos dias.

A energia abundante da pouca idade também está sendo aproveitada no trabalho voluntário na gestão de um evento de grande porte como a Rio+20. São 1.200 voluntários oriundos de universidades e escolas técnicas de todo o Brasil, além de alunos da rede pública do Rio de Janeiro. No encerramento da capacitação, no Museu de Arte Moderna do Rio, o ministro Laudemar Aguiar, coordenador do comitê de organização do evento, cuidou de estimular mais os jovens colaboradores: “Vocês são multiplicadores das ideias de sustentabilidade, de inclusão social, de acessibilidade e de erradicação da pobreza”. 

E são mesmo. Mas a ocasião é importante demais para que se percam oportunidades de abertura de novos caminhos, ainda que se tenha a continuidade de um debate que vem de pelo menos quatro décadas, desde Estocolmo, em 1972. Na Rio+20, o melhor é que nas faces da juventude se veja a expressão de seus anseios e sonhos, a mobilização da liberdade criativa que impulsiona o conhecimento, e não apenas a condução de planos ultrapassados que caducaram sem jamais terem sido postos em prática. Que sejam multiplicadores das próprias expectativas, e não meros repetidores da monotonia dos discursos frustrados dos embaixadores da diplomacia ambiental. 

(Jornal do Commercio, 13/06/12)

Foto: Youth Blast/Fora do Eixo

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