Com vontade de
influir nas decisões tomadas para mudar o mundo,
milhares de jovens participam
da Rio+20
Muitos
deles nem eram nascidos em 1992, quando o Brasil recebeu pela primeira vez um
encontro de cúpula internacional sobre o meio ambiente. A maioria dava os
primeiros passos ou entrava na pré-adolescência, e nem sonhava em fazer parte
daquilo duas décadas mais tarde. Mas a geração com menos de 30 anos é a grande
depositária da esperança dos rumos da Rio+20, e por isso a voz da juventude terá
grande destaque no evento.
Ontem,
foi encerrada a reunião do grupo de interesse de crianças e jovens da
Organização das Nações Unidas (ONU), no Centro de Convenções Sul América, no
centro da cidade. Dois mil jovens de 120 países estiveram presentes, expondo
seus problemas e ideias, discutindo experiências e ajustando como levar a visão
deles para o palco oficial, no Rio Centro, onde terão papel garantido, e para o
público que irá acompanhar tudo pela TV e, principalmente, pelas mídias
sociais.
O
grupo de interesse de crianças e jovens foi criado pela ONU em 1992, junto com
outros oito grupos, entre os quais os de povos indígenas, de empresários e de
organizações não-governamentais. Os grupos compõem espaços oficiais de diálogo
entre as Nações Unidas e a sociedade, sendo coordenados por entidades sociais e
ONGs, sem o controle direto da ONU. Antes de cada conferência da entidade, o
grupo de interesse de crianças e jovens realiza um evento prévio, de
capacitação e planejamento. “É para fazer o pessoal entender o que está
acontecendo, como funcionam os instrumentos de negociação na ONU, e quais os
canais de influência possíveis”, explica Pedro Telles, um dos organizadores da
Youth Blast – nome dado ao encontro prévio dos jovens para a Rio+20. Pedro tem
24 anos e integra o Vitae Civilis, fundado antes ainda da ECO92, em 1989, em
São Paulo, e voltado para “a governança da sustentabilidade sócio-ambiental”,
segundo o site da organização.
“A
gente conseguiu atingir um público que não é envolvido nas negociações da ONU”,
disse Juliana Russar, 27, voluntária na Youth Blast. “Não é só os governos que
vão tomar as decisões, é importante a participação de toda a sociedade.
Organizações e indivíduos que façam parte dos grupos podem influenciar as
decisões da ONU”, acredita Juliana, coordenadora de uma entidade criada em
2008, voltada para a “busca de soluções pra crise climática”, segundo a
expressão dela. Chama-se 350.org, em referência à concentração de carbono na
atmosfera considerada segura pelo cientista da Nasa, James Hensen, de 350 parte
por milhão (ppm). Atualmente essa concentração está em 400 ppm. Na Rio+20, Juliana
e seus amigos da 350.org promoverão uma campanha pelo fim do subsídio aos
combustíveis fósseis.
A
estimativa é de que cerca de três mil jovens participem da Rio+20 a partir de
hoje, quando começa de fato a programação oficial, enriquecida por uma
programação paralela repleta de debates e exposições em vários locais da
capital fluminense. Na Cúpula dos Povos, que acontece no Aterro do Flamengo, o
Acampamento Internacional das Juventudes promete ser um dos focos de agitação e
ativismo. Por outro lado, as delegações oficiais não iriam desperdiçar o apelo
que vem dos olhos que miram o futuro. O governo brasileiro tem na delegação 12
jovens, cuja missão será tentar traduzir o pensamento das novas gerações do
País, que será o centro das atenções do planeta nos próximos dias.
A
energia abundante da pouca idade também está sendo aproveitada no trabalho
voluntário na gestão de um evento de grande porte como a Rio+20. São 1.200
voluntários oriundos de universidades e escolas técnicas de todo o Brasil, além
de alunos da rede pública do Rio de Janeiro. No encerramento da capacitação, no
Museu de Arte Moderna do Rio, o ministro Laudemar Aguiar, coordenador do comitê
de organização do evento, cuidou de estimular mais os jovens colaboradores:
“Vocês são multiplicadores das ideias de sustentabilidade, de inclusão social,
de acessibilidade e de erradicação da pobreza”.
E
são mesmo. Mas a ocasião é importante demais para que se percam oportunidades
de abertura de novos caminhos, ainda que se tenha a continuidade de um debate
que vem de pelo menos quatro décadas, desde Estocolmo, em 1972. Na Rio+20, o
melhor é que nas faces da juventude se veja a expressão de seus anseios e
sonhos, a mobilização da liberdade criativa que impulsiona o conhecimento, e
não apenas a condução de planos ultrapassados que caducaram sem jamais terem
sido postos em prática. Que sejam multiplicadores das próprias expectativas, e
não meros repetidores da monotonia dos discursos frustrados dos embaixadores da
diplomacia ambiental.
(Jornal do Commercio, 13/06/12)
Foto: Youth Blast/Fora do Eixo
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