Chegar perto era um dilema. O que se deseja tanto provoca tremores de causa desconhecida. Tremores de origem incerta, deixando o corpo febril e a mente inquieta em torno de uma pergunta: a própria causa é capaz de aplacar a febre?
Era uma questão de honra, chegar perto. Nada no mundo equivale ao que emana da mais íntima intuição, que se mostra no mais perfeito reflexo do lado de fora. Como o íntimo que emana do mundo, na forma intrigantemente familiar de quem nunca se viu na vida – ou a quem o costume habitou o olhar e incentivou o olho a não querer largar. Aí não se quer permitir a aparição regredir, desaparecer, se ir – pois seria como regredir, desaparecer e se ir junto.
Era difícil chegar perto. Ainda é. O porto seguro jamais se alcança, jamais é perto o bastante. Após a primeira aproximação se percebe a necessidade de outras... Porém a distância mantida não é igual, nem é igual o gosto doce de apaixonante incerteza diante do inefável prestes a se materializar.
A doçura das distâncias quebradas reserva um sabor para cada aproximação. Cada aproximação é um drama, um dilema, e uma necessidade.
Apesar da vertigem e das dores, da embriaguez alienante, da febre e da razão que se esvai, é preciso chegar mais perto. Conviver para compreender as vertigens, as dores, a embriaguez e a febre do outro. E assim compartilhar lágrimas e sorrisos, perdas e afetos como só se consegue ao rés da intimidade do mesmo mundo.
O despertar de uma paixão (The painted veil, China/EUA, 2006)
Direção: John Curran
Com Naomi Watts e Edward Norton.
Baseado no livro de W. Somerset Maugham.
2 comentários:
Bem Fábio, na verdade lí todas as postagens da página; é a 1ª vez!
Com certeza, se assistir a qualquer filme citado terei que vir reler tuas postagens...Lindos, todas eles!
Parabéns pela sensibilidade...
Suelysofia...
I adored all of texts , I read all of it. Something like delicacy the blossom from the fur um amor under cover over there at the recondito by one trunk , but than it is to barefaced on reading teus texts. I would like um book autograph. it promises??
Postar um comentário