Palavras co-geradas emanam fora do alcance individual. Palavras quase audíveis no silêncio regente, no baile de pequenos gestos de repente alçados à linguagem mais relevante. Cada verso é costurado em pares, à maneira do DNA, numa dupla hélice espiral: como se fosse o mesmo verso, o mesmo corpo, um em busca do outro, dois paralelos mergulhados no ensejo de um.
Versos conhecidos repetem-se com solene prazer, na trajetória que oculta e descerra a distância impossível de se cumprir. Versos repetidos na ilusão de vencer a separação onde os apartados vibram, percorrer por inteiro e em todos os pontos, pelo chão, pelo ar, o caminho da atração.
Assim o poema é sempre um novo arranjo de poesia que não sacia, limiar de corpos que se invadem, reservando aos invasores o retorno ao ponto de partida. Para que a sedução recomece, e o silêncio conceda novamente a sua dança.
Pode ocorrer de se baixar o descontrole dos sentidos, e um filtro profundo apure o que aflora na superfície. Ou pode ser que o grito mudo apenas surja do espanto defronte de rima rara.
O caso que for, a existência entra em êxtase por se lançar além. Na direção de alvos projetados com avidez sobre uma flecha de luz, por sua vez também um alvo móvel que brilha, mira e seduz.
O corpo se entrega à necessidade do não dito, e se dedica ao que o libera do pensamento narrado, discursivo. O desatino corpóreo é pensamento primitivo, poético. Desatino de conscientes autômatos, atirados ao que mais se parece a uma experiência breve, fora do ser.
Sexo com amor? (Brasil, 2008)
Direção: Wolf Maya
Com Carolina Dieckmann, Reynaldo Gianecchini, José Wilker, Malu Mader e Eri Johnson.
2 comentários:
aposto q a reflexão desse seu texto ficou bem melhor do q a proposta pelo filme. certa e meiamente.
parabéns ;0)))
Só passando para parabenizar pelo blog!
:)
..abraços!..
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