A extensa pauta de discussões, a quantidade de pessoas e
organizações presentes e até as extravagantes manifestações que deram ao
encontro de quase duas semanas um clima de carnaval fora de época, criaram a
expectativa de que a Rio+20 poderia ter um saldo melhor. Nos últimos dias da
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a chegada de
chefes de estado reacendeu a esperança de que o documento tímido apresentado
pelas delegações, chamado ironicamente de “rascunho zero”, pudesse sair do zero
e ser mais que um rascunho, ao receber o título pomposo de “O futuro que
queremos” em sua versão final. Mas a chama logo se apagou. Os presidentes
passaram, e as metas para um planeta sustentável foram atiradas, como de
hábito, para o terreno semeado pela insustentabilidade.
A sensação de frustração no âmbito dos acordos de cúpula,
que ignoraram a necessidade de objetivos concretos perseguidos por políticas de
amplo alcance e medidas de ruptura dos padrões de consumo, não foi propagada
pelo governo brasileiro. Como anfitriã, a presidente Dilma Rousseff insistiu na
defesa do minimalismo pactuado, apesar das lacunas evidentes. Ao abdicar da
pressão sobre as nações visitantes, o Brasil se limitou a hospedar o maior
evento sobre sustentabilidade já realizado, sem exercer a liderança que
naturalmente nos caberia. Um País com o capital verde como o que nós dispomos
não poderia apenas abrigar a conferência das Nações Unidas com “calorosas
boas-vindas”. Foi muito pouco.
Rebatendo as críticas que saíram de todos os lados, o
secretário geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que “seria muito
pobre reduzir a Rio+20 apenas àquilo que é o documento final”, preferindo
enaltecer a “festa democrática” realizada com sucesso e sem atropelos – embora
os moradores do Rio de Janeiro tivessem razões para reclamar, especialmente da
falta de mobilidade que entupiu a cidade por causa da passagem das comitivas,
apesar da decretação de três dias de feriados escolares e no serviço público. A
afirmação de Carvalho serve como reconhecimento oficial do curto fôlego de um
documento cercado de grandes expectativas, e que resultou em grande decepção.
O consolo daqueles que participaram das atividades no
Riocentro e nos debates e exposições paralelas, como no Forte de Copacabana, no
Jardim Botânico e na área portuária do Rio, bem como dos atentos olhares no
resto do País e do mundo, é que fica cada vez mais claro o papel de
protagonismo das esferas governamentais e não-governamentais locais, diante dos
impasses de uma agenda internacional paralisada pela crise financeira. O
desafio, a partir do fracasso institucional da Rio+20, é acelerar o mecanismo
de programas e projetos exitosos, com base em pressupostos comuns que fazem das
iniciativas de ONGs, empresas e prefeituras a melhor aposta, não para o futuro
que queremos e não sabemos concretizar, mas para o futuro que podemos construir
imediatamente, sem hesitar, nem depender das complexas teias da desgovernança
global.
Editorial do Jornal do Commercio, 9/7/12.
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