9.7.12

Do local para o global



A extensa pauta de discussões, a quantidade de pessoas e organizações presentes e até as extravagantes manifestações que deram ao encontro de quase duas semanas um clima de carnaval fora de época, criaram a expectativa de que a Rio+20 poderia ter um saldo melhor. Nos últimos dias da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a chegada de chefes de estado reacendeu a esperança de que o documento tímido apresentado pelas delegações, chamado ironicamente de “rascunho zero”, pudesse sair do zero e ser mais que um rascunho, ao receber o título pomposo de “O futuro que queremos” em sua versão final. Mas a chama logo se apagou. Os presidentes passaram, e as metas para um planeta sustentável foram atiradas, como de hábito, para o terreno semeado pela insustentabilidade.

A sensação de frustração no âmbito dos acordos de cúpula, que ignoraram a necessidade de objetivos concretos perseguidos por políticas de amplo alcance e medidas de ruptura dos padrões de consumo, não foi propagada pelo governo brasileiro. Como anfitriã, a presidente Dilma Rousseff insistiu na defesa do minimalismo pactuado, apesar das lacunas evidentes. Ao abdicar da pressão sobre as nações visitantes, o Brasil se limitou a hospedar o maior evento sobre sustentabilidade já realizado, sem exercer a liderança que naturalmente nos caberia. Um País com o capital verde como o que nós dispomos não poderia apenas abrigar a conferência das Nações Unidas com “calorosas boas-vindas”. Foi muito pouco.

Rebatendo as críticas que saíram de todos os lados, o secretário geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que “seria muito pobre reduzir a Rio+20 apenas àquilo que é o documento final”, preferindo enaltecer a “festa democrática” realizada com sucesso e sem atropelos – embora os moradores do Rio de Janeiro tivessem razões para reclamar, especialmente da falta de mobilidade que entupiu a cidade por causa da passagem das comitivas, apesar da decretação de três dias de feriados escolares e no serviço público. A afirmação de Carvalho serve como reconhecimento oficial do curto fôlego de um documento cercado de grandes expectativas, e que resultou em grande decepção.

O consolo daqueles que participaram das atividades no Riocentro e nos debates e exposições paralelas, como no Forte de Copacabana, no Jardim Botânico e na área portuária do Rio, bem como dos atentos olhares no resto do País e do mundo, é que fica cada vez mais claro o papel de protagonismo das esferas governamentais e não-governamentais locais, diante dos impasses de uma agenda internacional paralisada pela crise financeira. O desafio, a partir do fracasso institucional da Rio+20, é acelerar o mecanismo de programas e projetos exitosos, com base em pressupostos comuns que fazem das iniciativas de ONGs, empresas e prefeituras a melhor aposta, não para o futuro que queremos e não sabemos concretizar, mas para o futuro que podemos construir imediatamente, sem hesitar, nem depender das complexas teias da desgovernança global.

Editorial do Jornal do Commercio, 9/7/12.

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