4.10.06

Efeito bumerangue


Em cartaz - O que você faria, hoje, diferente de ontem, se a chance lhe fosse dada, a oportunidade, criada? O que você mudaria em sua vida se o poder de mudança estivesse ao seu alcance? Qual a carga de arrependimento, frustração e culpa que aliviaria ou retiraria das costas, caso a sorte que não teve e as escolhas certas caíssem de bandeja em suas mãos agora, de forma a consertar o mal feito cortando-o pela raiz – sem deixar que surgisse sequer uma cicatriz?

Ainda bem que a realidade não é a superposição de imagens e efeitos digitais, e não podemos interferir tanto naquilo que vemos, que nos apresenta o real. Mas se há um limite humano ignorado pelo cinema, é este: o impossível vira infinita potência, a vida e a história são questões de edição, cada momento é do tempo somente uma versão. Como no filme em que o passado alterado é uma bola de neve, cuja seqüência é menos seqüência do que repetição.

Sonhar com um novo passado contudo não dispensa o incômodo de um futuro repaginado a cada instante. No paradoxo das viagens no tempo mora, junto com a nossa ilusão com ele – relativisticamente – a nossa desilusão com o presente. Ou melhor, talvez: a nossa aguda incompreensão sobre o ser consciente, desperto, alerta e confuso com os limites da existência... Afinal, como cantou o Poetinha, “se foi pra desfazer, por que é que fez?”

Pra refazer, provavelmente. Pois preciso e possível mudar não é o que passou, mas o futuro, sempre. Basta estar no presente.

Como intervir no que não se conhece? Este fiapo de matéria habitada por nossa mente é capaz de mexer no que não faz idéia... Assim fomos projetados, da elegância enigmática, ordenada em dupla hélice em nossos genes, ao design de fogo e caos das sinapses cerebrais – ora encarando com apreensão o espelho, ora encontrando um deus na vista silenciada.

A imagem no espelho concretiza a eternidade em fuga, o tempo que não fica. Difícil não temê-la, e de fato poucos conseguem. Enquanto a luz interior é escura, requer o recolhimento, a sabedoria do esquecimento – meio lúcida, meio louca – segundo a qual, a certa altura, para todos nós, os dilemas do livre-arbítrio serão favas contadas.

Efeito Borboleta 2
EUA, 2006
Direção: John R. Leonetti
Roteiro: Michael D. Weiss
Com Erica Durance e Eric Lively

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