25.9.06

A cosmética dos corpos


Em cartaz - Como num jogo de espelhos a contradizer no seguinte a imagem desfeita no segundo passado, a moda faz e refaz o encontro do ser consciente com o corpo que o veste. A vender ilusões ou retratar com perfeição a fronteira entre a pele e o mundo percebido, o olhar que reina no império dos sentidos é chamado a mergulhar na aura das aparências para vislumbrar na sombra exposta do outro um fio de luz essencial.

O olhar de cada um perscruta no reflexo de todos o traço inconfundível de estilo que revela, de relance, a personalidade única na busca incessante de si. As vestes recortam silhuetas tanto quanto as escondem, mas será assim tão fiel a cópia que aflora em nossa fôrma superficial?

A cosmética dos corpos demonstra, na estilística dos pés à cabeça, alvo de pincéis e tesouras no Egito Antigo ou em Nova York, a inclinação humana de esculpir-se de acordo com um ideal – ético ou estético, se o belo é apelo que se vê ou se intui.

Quando a cultura copia e replica, destrona, transforma os padrões do ideal, diz-se que uma moda substitui outra. No filme regido por Meryl Streep, o espelho fashion alterna a defesa do requinte com a bandeira da simplicidade, opondo o glamour frenético da mais badalada publicação de moda à vida romântica, sem maquiagem, de um casal em início de caminhada.

Uma bem-humorada crítica, que realça o contraste situado, sempre, entre os limites do corpo e aquilo que o cobre.

O Diabo veste Prada (EUA, 2006)
Direção: David Frankel
Com Meryl Streep, Anne Hathaway e Stanley Tucci

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