9.1.08

Caça ao tesouro

Tesouro é o que se abriga dos olhos nas profundezas da imaginação, é celebrado sem ter sido visto, é cobiçado antes de conhecido. Um cristal ideal lapidado no tempo certo.

A informação sobre o tesouro, no entanto, é farta em minúcias. Durante a busca, o que não se sabe não importa: as lacunas que persistem são preenchidas pela expectativa, espaços propícios à fertilização curiosa.

O tesouro mantém-se alheio ao mundo, estranho ao toque, pérola distante à espera de descobrir-se... o porto perdido na ilha fora do mapa.

A lenda do tesouro se forma e se espalha na superfície, enquanto o tesouro descansa lá embaixo, à sombra silenciosa. A lenda desmente a fantasia e se desvencilha de um manto desnecessário: o tesouro é intocado e essa qualidade basta. O tesouro é selvagem, porque o tempo o torna puro, na virgindade impoluta do inédito contemplado.

A esperança da virtude acompanha a lenda. Se por um lado há pureza, de outro viceja a permanência que desafia o tempo. Pela demora pra aparecer, o tesouro também é precioso por ser tomado por algo que dura. Uma espécie de força imune ao desgaste, ou de beleza imutável.

A sua posse é improvável, pensar nela é sofrer em vão? Os aventureiros que se lançam apaixonados estão atrás da grande recompensa no final. Mas tudo que se persegue vai junto durante toda a jornada. Desde o primeiro passo, o primeiro sonho, a primeira dúvida.

Tesouro é o que se dá aos olhos após consumir a imaginação, na dádiva que surpreende. É a compreensão que renova a vontade de saber mais.

Um cristal real, exposto à experiência do mundo.



Criaturas das profundezas (Aliens of the deep, EUA, 2005)
Direção: James Cameron e Steven Quale.
Documentário no fundo do oceano com cientistas da Nasa.


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