3.11.09

Mundo perfumado




A mera visão do jardim desperta a memória do perfume das flores, assim como o cheiro da comida atiça o paladar a antecipar o gosto.

Há pessoas que realmente escutam as cores e formas que vêem, outras que enxergam os sons. São os sinestetas, cujo cérebro processa dois efeitos simultâneos a partir de um único estímulo sensorial.

A sinestesia tem origem genética, mas sua ocorrência serve a usos metafóricos desde muitos antes de decifrada.

Lembrei do fenômeno este fim de semana, na platéia do espetáculo “Mundo perfumado”, do Grupo de Dança Primeiro Ato. Foi no Festival de Dança do Recife, no Teatro de Santa Isabel.

A alegria que fica no ar durante a apresentação parece despertar mais que a nossa percepção visual. Será que a arte tem esse poder – de nos brindar a todos, por um momento, com a dádiva dos sinestetas?

O poeta Affonso Romano de Sant´Anna escreveu: “basta olhar a colméia/ para se ver ali/ a geometria do mel”.

Pois basta experimentar a fagulha de olhar o mundo perfumado no movimento dos corpos que fazem a alma do Grupo 1º Ato, para notar ali a geometria do perfume que o mundo pode ter, quando a vida é inspirada criativamente e projetada sobre espelho de poesia.

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