9.11.09

O de Berlim e outros muros




A retirada de um muro não significa a extinção de todos. A destruição do símbolo da Guerra Fria, vinte anos depois, parece não surtir qualquer efeito sobre a capacidade da insensatez humana de erguer muros em lugar de soluções. A queda do Muro de Berlim encerrou um ciclo da história, mas não impediu que a história dos conflitos territoriais seguisse o seu trágico rumo – como segue na fronteira que separa o México dos Estados Unidos, ou na barreira que divide a disputa de fé entre palestinos e israelenses.

Em recente edição do programa de TV paga Globonews Painel, o filósofo José Arthur Giannotti disse que tudo o que faz um muro é adiar o problema que os seus construtores não se vêem em condições de resolver. O muro é desta forma, podemos dizer, um espelho da indolência, da incompetência e da falta de criatividade políticas – além de concretíssima confissão de intolerância e falta de vontade para o diálogo. O muro guarda o “mundo do bem” do “mundo do mal”, afasta os “escolhidos” dos “bárbaros”, protege o “paraíso” contra os invasores do “inferno”.

No mesmo debate, o professor Guilhon de Albuquerque afirmou que a mentalidade dicotômica permanece presente na diplomacia internacional, sendo exemplo evidente o bolivarianismo de Hugo Chávez. Para o professor Guilhon, apenas a China, neste aspecto, entrou de fato no século 21, rompendo os conceitos polarizados e buscando tirar proveito de uma realidade multipolar sem se importar com a antiga contenda ideológica.

Antes de tomar lições com a China, entretanto, vale questionar a facilidade com que a nova real politik do imperial capitalismo chinês tem atravessado o mercado liberal-democrata e a cultura ocidental. Das duas, uma: ou o sistema dirigista está perdendo força diante da fresta econômica, ou o “espírito do muro” que se espalha na Europa e nos EUA se mostra em sua verdadeira face, quando admite sem constrangimento a parceria com a ditadura chinesa.

Foto: NATO/Getty Images

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