10.11.09

O dominó de Berlim e o destino dos muros




Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo em outubro, o professor Giannotti fez uma afirmação que também diz respeito ao futuro dos muros: “Não me parece mais adequado pensar numa política que desemboque numa negação política, a partir da qual uma nova história teria início”. A redução de horizontes proporcionada pelas muralhas procura negar, tirando de vista, a ameaça que se esconde. E assim, a negação aposta numa acomodação improvável da história – o que é pior, fazendo de conta que a situação inexiste, contribui para que se chegue a situações-limite, quando a manutenção de uma ordem represada torna a fantasiosa realidade algo insustentável.

A celebração na capital alemã ontem simulou a queda de regimes políticos “do Leste” através de mil grandes pedras de dominó decoradas por artistas, que foram empurradas pelo ex-líder sindicalista polonês Lech Walesa. “O destino da humanidade é o que os seres humanos fazem dele”, falou o presidente dos EUA, Barack Obama, em mensagem gravada para o evento. Pena que a eleição de Obama ainda não significou o avanço que se espera dele. Com boa parte desse destino sobre seus ombros – pelo menos, é o ser humano de quem mais se aguarda, hoje, um bom exemplo – o primeiro negro na Casa Branca não conseguiu deixar a prática dos muros para trás.

A solução provisória dos muros pode parecer, para quem se serve de sua “segurança”, seja do lado de dentro (como os israelenses), seja do lado de fora (como os moradores do Rio, isolados das favelas), a solução mais rápida e eficiente. Mas se fosse tão simples, a discórdia que os muros encerram logo diminuiria, e não é o que se verifica. Cada muro levantado é uma afronta, um constrangimento e uma provocação a um dos lados. Por isso a discórdia tende a crescer, enquanto a paz depender de uma gambiarra murada.

Foto: Tobias Schwarz/ Reuters

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