1.1.12

Entre dois tempos


Fim da contagem regressiva em Londres


No último dia do ano, a celebração reúne o passado e o futuro. O possível se torna visível, o horizonte se torna maior em sua aproximação máxima, delineando os contornos do desejo sem traços de dúvida. Caminhos cruzados e eventuais percalços vão para a sombra da memória, enquanto a imaginação providencia a queima de fogos para iluminar os próximos passos, de percurso nítido e evidente.

No primeiro dia do ano, a ressaca separa o futuro e o passado. Toda possibilidade volta à invisibilidade, retomando a condição de potência não realizada. O horizonte se afasta outra vez, levando o que parecia definido, devolvendo a suspeita sobre o que se esconde invariavelmente a seguir.

A sensação do futuro trespassado – consumado ou esfumaçado pelo presente – é contraditória: ao invés da novidade, o que se foi é o que se apresenta, reativado pela travessia da fronteira entre dois tempos.

Antes da contagem regressiva, olhares brilham a espreita de qualquer surpresa. É quando o sonho encontra os olhos abertos e aproveita. Com a primazia da visão na fronteira temporal, a vitória, a beleza ou a redenção sonhadas aparecem com avidez. A certeza de que tudo está para mudar embala a espera, em ritmo de vigília por um nascimento.

Depois dos abraços e das lágrimas, dos gritos e das explosões que iluminam a meia-noite, a surpresa se dissipa como a pólvora ao vento. A certeza de que tudo estava para mudar, de repente silencia. E as ilusões desenhadas no entre-tempo do Ano Novo regressam ao ventre do céu noturno. O futuro foi lançado mais a frente, está mais distante, agora que um ano ficou para trás.


Foto: Reuters.

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