13.9.10

Mimo na agenda cultural





Editorial do Jornal do Commercio

A sétima edição da Mostra Internacional de Música de Olinda (Mimo), encerrada dia 7, foi um grande sucesso de público. Este ano, a mostra cresceu em todos os aspectos: o número de atrações saltou de 27, no ano passado, para 39, houve expansão geográfica, com eventos também no Recife e em João Pessoa, e o público estimado durante os seis dias de programação pode ter passado de 100 mil pessoas. Além disso, a organização também diversificou apostando na exibição paralela de filmes de temática musical, juntamente com as palestras e oficinas. Até a repercussão do festival, que nesta edição homenageou o mineiro Wagner Tiso, foi maior, com cobertura da crítica especializada da Alemanha e da França.

O interesse da mídia internacional foi consequência direta da escolha dos convidados. Das 1.200 pessoas envolvidas na produção, 650 eram músicos. Alguns deles, consagrados no exterior, e pouco conhecidos do nosso público, como os pianistas McCoy Tyner e Mario Canonge, e ainda o guitarrista Mike Stern, vencedor de seis prêmios Grammy. Entre os convidados nacionais, nomes de destaque como o maestro Isaac Karabtchevsky, o pianista Jean Louis Steuerman, o cantor Tom Zé, Leo Gandelman, Egberto Gismonti, Dado Villa-Lobos e Carlos Malta deram mais brilho ao festival. Talentos regionais tiveram seu espaço, como Antônio Madureira, Ana Lúcia Altino e Leonardo Altino, o Conjunto de Cellos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), bem com as orquestras sinfônicas da UFRN e da cidade do Recife. A Orquestra Sinfônica de Barra Mansa, do Rio de Janeiro, foi a orquestra residente.

Nas Igrejas da Sé, da Misericórdia, do Convento de São Francisco, de Guadalupe, da Madre de Deus, ou na Praça do Carmo, as orquestras de música clássica e os grupos de jazz deixaram os ambientes lotados e o público emocionado com inesquecíveis performances. O que teve início modestamente, com cinco concertos, sete anos atrás, em pouco tempo rendeu os frutos esperados de uma boa ideia, capitaneada pela produtora carioca Lu Araújo, diretora do evento, e hoje consolidada na agenda do País graças ao apoio de grandes patrocinadores, como o Ministério da Cultura (MinC), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Companhia Elétrica do São Francisco (Chesf), além da Prefeitura de Olinda. O custo desta edição foi de R$ 1,5 milhão. Apesar do sucesso reconhecido, a Mimo enfrenta dificuldades para sua sustentação, uma vez que promove eventos gratuitos. “Ficamos numa gangorra para fechar os patrocínios”, afirmou Lu Araújo à reportagem do JC.

A proposta de utilização das igrejas como casas de espetáculos para shows e concertos musicais gratuitos não poderia ter outro destino senão o êxito obtido pela Mimo. Aproxima o público dos artistas, serve de vitrine tanto para monstros sagrados como para aqueles que estão buscando espaço, populariza a arte musical e ainda valoriza o patrimônio histórico representado pela bela arquitetura religiosa encontrada no Brasil. O investimento na expressão cultural em locais vocacionados para a arte se revela igualmente proveitoso para a economia. O turismo obtém ganhos importantes, com o aumento da taxa de ocupação de hotéis e pousadas, a movimentação gastronômica e o comércio no entorno dos pontos de realização dos eventos. De acordo com a Associação dos Empreendedores do Sítio Histórico, a ocupação média do setor de hospedagem foi de 85% durante a Mimo.

Por outro lado, a definição de um programa eclético, marcado pela mistura entre o erudito e o popular, parece ter sido a melhor opção para um evento com o caráter de atrações múltiplas e simultâneas. Os problemas isolados de acústica nos templos transformados em palcos, ou mesmo na distribuição de senhas para os espetáculos, não retiram da Mimo a excelência conquistada. A mostra evoluiu, alcançou o respeito mundial e caiu nas graças do público pernambucano. Merece a inclusão no nosso calendário cultural, com todas as honras de um evento bem concebido, bem montado e bem recebido pela plateia apaixonada por música da melhor qualidade.


 

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