2.9.10

Um difícil diálogo





Editorial do Jornal do Commercio

A expectativa do mundo se volta nesta quinta-feira para Washington, onde serão retomadas, após quase dois anos, as negociações entre israelenses e palestinos por um acordo de paz no Oriente Médio. O encontro entre o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, terá a mediação do presidente norte-americano Barack Obama. A esperança de Netanyahu é de que um acordo histórico entre os dois povos venha a ser celebrado em breve, após a nova conversa direta entre os seus líderes. Ele não quer repetir o fiasco de 2007, quando Abbas e o então premiê israelense, Ehud Olmert, saíram de outra reunião nos EUA, naquela ocasião em Anápolis, com a disposição de acertar as bases do Estado Palestino – fato que não engrenou.

Antes mesmo do início das conversações, declarações do chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, publicadas pelo jornal israelense Ha"aretz, deram o tom das dificuldades para o diálogo, que se arrastam desde 1948, com a criação do Estado de Israel. Para Haniyeh, a negociação na Casa Branca é apenas mais um lance da estratégia israelense, ao lado da ocupação do território, "dos ataques, das mortes, das torturas e do isolamento" impostos aos palestinos. O grupo islâmico radical Hamas governa a Faixa de Gaza, que sofreu violenta ofensiva militar israelense há um ano e meio. A Autoridade Palestina, que será representada em Washington, governa a Cisjordânia.

Na pauta das discussões, desta vez com prazo de um ano para serem resolvidas, questões antigas, como o status de Jerusalém, o destino dos refugiados palestinos e os traçados de fronteira. Compreende-se a determinação de prazo. Ainda que o fracasso das negociações não seja novidade em se tratando daquela conturbada região do planeta, quanto maior a demora da solução, maiores ficam as tensões de parte a parte – com repercussões por todo o Oriente Médio, que se contamina de desconfiança e ressentimento. É lamentável que uma área histórica tão importante, berço de grandes religiões, tenha se tornado uma zona de convergência do ódio.

Para Saeb Erekat, negociador-chefe da AP, “se o diálogo vier abaixo, todos nós iremos juntos rumo ao caos, à anarquia e ao extremismo”. É claro que a declaração de Erekat também deve ser lida no contexto de um jogo de ameaças que busca pôr a opinião pública, principalmente europeia, para pressionar Israel. Mas enquanto a diplomacia israelense for traduzida por truculência, como no ataque a uma frota humanitária das Nações Unidas na Faixa de Gaza, em maio – que aumentou as arestas de Israel com a Turquia – os palestinos continuarão arregimentando apoio para a sua causa. O avanço da beligerância que conta com alta tecnologia e arsenal nuclear não pode continuar se nutrindo do discurso da prevenção contra um celeiro de terroristas e homens-bomba, simplesmente porque, assim, deixa a paz num beco sem saída.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu antecipou que a possibilidade de aceitação de um futuro Estado palestino passa pela condição de que seja um “Estado desmilitarizado”, para a segurança de Israel. A Liga Árabe, por sua vez, externou a preocupação de que o processo de paz retorne a um círculo vicioso. “Israel deve escolher entre o projeto colonizador e a paz, entre a continuação da ocupação e a continuação do conflito, porque não é possível combinar assentamentos e paz”, disse também Erekat.

O encontro em Washington precisa dar uma resposta concreta para palestinos e israelenses, e não apenas para a plateia mundial. Neste sentido, um novo fracasso pode representar o recrudescimento dos radicais que condenam a moderação da AP, que estaria, na visão deles, submissa aos interesses ocidentais. Um dos principais pontos da negociação é exatamente a suspensão definitiva da construção, pelos israelenses, de residências nos terrenos ocupados pelos palestinos. Somente na Cisjordânia, 42% do território apresenta assentamentos judaicos, de acordo com levantamento divulgado em julho. Sem que Israel ao menos sinalize nesta direção, é improvável que os dois lados em guerra resolvam trabalhar juntos pela harmonia.

Foto: ponteeuropa.blogspot.com
 

Nenhum comentário: