11.9.10

Reforma de um monumento





Editorial do Jornal do Commercio

Devem ser concluídas, em junho do ano que vem, as obras de reforma iniciadas há cerca de três anos no prédio da Faculdade de Direito do Recife (FDR). Mais do que uma referência histórica, para muitos pernambucanos a velha faculdade é uma referência de vida. Parte expressiva de nossos atuais políticos, intelectuais e integrantes do meio jurídico passou pela Casa de Tobias - como é conhecida, graças a outro ilustre aluno, Tobias Barreto, e por onde também passaram nomes como Joaquim Nabuco, Rui Barbosa e Barbosa Lima Sobrinho. Parte importante de nossa história foi, em suas bancas, concebida.

O anúncio da previsão do encerramento das obras é simbólico, uma vez que em 2011 o prédio completa 100 anos de inauguração. A recuperação de um dos mais valiosos patrimônios da história social brasileira tem se arrastado desde 2007, quando se comemoraram os 180 dos primeiros cursos de direito no País, criados por dom Pedro I nas faculdades do Largo de São Francisco, em São Paulo, e de Olinda, inicialmente no Mosteiro de São Bento. Somente mais tarde a faculdade seria transferida para o endereço que ocupa até hoje, na Praça Adolfo Cirne, na Boa Vista, no Recife, junto ao Parque 13 de Maio. Durante as celebrações, em 2007, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sem recursos, foi obrigada a lançar uma campanha para mobilizar empresas, ex-alunos e a sociedade com vistas a arrecadar fundos para a restauração que se mostrava urgente. Já em 2004, a história representada pelo antigo prédio chegou, literalmente, a ruir: um pedaço do teto se desprendeu em plena aula, caindo sobre a mesa da professora.

Em 2008, graças ao patrocínio de mais da metade do projeto pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foram levantados os R$ 3,5 milhões necessários para custear a empreitada, com intervenções nos forros, nas estruturas metálicas, no revestimento das abóbadas, na impermeabilização das calhas e nas fachadas do prédio. Segundo a diretora da FDR, Luciana Grassano, a entrada da Rua Princesa Isabel deve ficar pronta daqui a alguns meses, em novembro, e o salão nobre poderá receber os alunos na abertura do primeiro semestre letivo do próximo ano. Dois anfiteatros e a biblioteca ainda estão na agenda da restauração, preparando-se para o centenário da edificação.

Como relatamos em matéria publicada no último dia 29, o que está em vias de finalização é apenas parte de um longo trabalho. A fim de recuperar esquadrias, portas, pisos e adornos internos, um novo projeto se encontra em elaboração, para ser submetido à Lei Federal de Incentivo à Cultura. Somente depois de aprovado, a faculdade estará autorizada a captar recursos para executar essas obras.

A restauração de monumentos vivos como a Faculdade de Direito enfrenta a via-crúcis comum dos prédios tombados no Brasil. Em vez de termos uma política consistente de manutenção patrimonial, que privilegie a conservação contínua, observamos o cíclico clamor pela recuperação, quando os edifícios dão sinais de cair aos pedaços. O resultado é que a gestão da preservação por projetos emergenciais se torna muito mais caro para a sociedade, que financia o remendo milionário quando podia pagar menos pela prevenção. A deterioração dos prédios públicos é um triste exemplo da má administração que reflete o desrespeito pela história e pela tradição nacionais, que não foge à regra em Pernambuco.

Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1979, o prédio da FDR mereceria mais atenção do poder público, em suas diversas esferas. A história que se repete desde a década de 1980 é a da busca periódica de recursos financeiros para minimizar os estragos do desgaste do tempo, visíveis na deterioração acelerada de construções antigas. O cumprimento do cronograma de obras, em tempo para as festividades que certamente ocorrerão no prédio recuperado, em julho do ano que vem, deveria servir como ponto de partida para uma nova fase da política de conservação de um patrimônio que embeleza o Centro da cidade, e ecoa no interior da Faculdade de Direito do Recife.

 

Um comentário:

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